Em meio à pandemia sem precedentes, estudos com drogas psicodélicas revelam seu potencial em tratar depressão, vício e outros problemas de saúde mental.
A relação do homem com plantas e fungos não é de hoje. Desde os tempos da caverna que a humanidade as utiliza para expandir a consciência e curar doenças. Porém, somente no século passado, com o avanço da ciência, surgiram as primeiras pesquisas sobre como o uso de psicodélicos poderia ajudar pacientes com ansiedade e depressão.
Os alucinógenos ficaram famosos nos anos 60, quando escaparam dos laboratórios e caíram nas graças do movimento hippie, interessado em um tipo de uso mais recreativo e espiritual. E em meio à estruturas políticas e sociais rígidas, os psicodélicos se tornaram ilegais, e com eles, todos os estudos medicinais também se encerraram.
Mas agora, universidades em vários países foram autorizadas a retomar suas pesquisas com alucinógenos — um movimento chamado de “Renascença Psicodélica”. Especialistas querem provar como essas substâncias podem facilitar o processo terapêutico de pessoas que sofrem de casos graves de depressão e estresse pós-traumático.
Pesquisadores da Universidade da Califórnia (EUA) criaram um novo psicodélico que aparentemente produz efeitos terapêuticos significativos, rompendo a barreira da imprevisibilidade das viagens alucinatórias ocasionadas com essas substâncias.
Estudos em animais indicaram que a ibogaína (derivada da iboga (Tabernanthe iboga), um arbusto da África Ocidental) aumenta a expressão de fatores-chave de crescimento em várias regiões do cérebro, permitindo a formação de novas conexões. Por exemplo, registrou-se que tanto o fator neurotrófico derivado da linha de células gliais (GDNF) quanto o fator neurotrófico derivado do cérebro (BDNF) aumentaram significativamente após uma dose única de ibogaína. Isso acarretou um crescimento acentuado na proliferação sináptica. Pesquisadores atribuem a esse aumento na plasticidade neural a possibilidade de os usuários reconectarem seus cérebros e superar vícios.
Já o MDMA, que é a base do ecstasy, administrado na dose certa inibe a área do cérebro responsável pelo medo e estimula a produção de serotonina, neurotransmissor ligado ao humor. Outro resultado impressionante é com a psilocibina, presente nos cogumelos mágicos, mostrou ser quatro vezes mais eficaz que os antidepressivos. O DMT, identificado no chá de ayahuasca, também parece reduzir sintomas de depressão.
A legalização se mostra um caminho sem volta. E, não para menos, pois no passado os psicodélicos foram uma espécie escape, de fuga do pós-guerra, da vida consumista e das incertezas econômicas. Assim, faz bastante sentido eles estarem ganhando atenção novamente. Vivemos em uma realidade com 300 milhões de pessoas afetadas pela depressão, uma pandemia com a cabeça de todos.